Em Mato Grosso, a safra de milho virou quase uma novela rural: começou atrasada, teve chuva demais, milho de menos, e até a braquiária resolveu fazer carreira solo no protagonismo do campo. Produtor colhe, pragueja, agradece — e já mira a soja com o bolso apertado e o frete nas alturas.
Colheita já começou? Ou é só o pivô dando spoiler?
A colheita do milho segunda safra já deu seus primeiros sinais de vida em Primavera do Leste, no Mato Grosso, especialmente nas áreas irrigadas. Os produtores que plantaram mais cedo sob pivôs já estão tirando os primeiros grãos. No sequeiro, alguns decidiram arriscar colher com alta umidade para aproveitar os preços momentaneamente mais firmes, diante da escassez no mercado.
Milho com sorte de chuva ou chuva demais para o azar do produtor?
Apesar do atraso no plantio, a chuva resolveu aparecer — e até demais. Enquanto o milho safrinha parecia fadado ao fracasso, o clima mudou o roteiro e garantiu bom desenvolvimento para muitas lavouras. O problema? Quem plantou cedo, recebeu um banho extra que trouxe doenças, grãos ardidos e mais dor de cabeça com os tratos culturais.
Braquiária ou milho: quem manda na lavoura agora?
Técnicas de consórcio com braquiária ou crotalária, populares entre os consultores de plantão, causaram mais confusão que cobertura de solo. Em várias áreas, a braquiária cresceu tanto que ultrapassou o milho — literalmente. Resultado: produtividade abaixo do esperado para quem seguiu a cartilha sem moderação.
Produtividade depende de fé, chuva e nitrogênio?
A produtividade está variando como playlist de rádio. Segundo Edivalza Falom, tudo depende do quanto o produtor acreditou (e investiu). Quem apostou alto em insumos está colhendo melhor. Já os mais cautelosos ou econômicos estão sentindo no bolso a falta de nutrientes. Afinal, milho sem nitrogênio é igual churrasco sem carvão: não vai render.
As lagartas invadiram ou foi só alarme falso das biotecnologias?
Outro drama rural: a lagarta. Mesmo com sementes transgênicas prometendo resistência, os insetos deram um show de persistência. Muitos produtores precisaram fazer até três aplicações específicas para conter a praga, elevando os custos e estressando o planejamento inicial da lavoura.
Vender agora ou esperar a chuva passar no mercado também?
A comercialização do milho enfrenta um daqueles dilemas clássicos: preço em baixa, armazéns lotados de soja encalhada e frete subindo. Quem fechou contrato antecipado por R$ 50 a saca se deu bem. Agora, a cotação gira entre R$ 44 e R$ 45 — e ainda há o problema do milho sem casa, já que os silos estão entupidos.
Vai guardar o milho no tempo ou construir um castelo de grãos?
Com a logística travada, armazenar virou um luxo. Muitos estão apelando para os silo-bolsas, outros cogitam erguer armazéns próprios, como se fossem bunkers anti-preço baixo. A lição de casa é clara: sem espaço para estocar, o produtor vira refém da pressão da colheita no mercado.
E a soja 25/26, vai sair ou vai travar na cotação do adubo?
O planejamento para a próxima safra de soja está tão atrasado quanto caminhão preso em estrada de terra. Com o adubo disparando de preço, muitos estão relutando em comprar. A relação de troca está tão desequilibrada que cortar fertilizante parece tentador — até os agrônomos baterem na mesa lembrando que isso costuma custar caro na hora da colheita.
Tem motivo para reclamar ou é hora de agradecer à safra?
Apesar dos pesares, Edivalza é otimista: “Ano bom tem que agradecer. Só reclama no ruim.” Entre lagartas resilientes, braquiárias atrevidas e preços escorregadios, a colheita promete. O produtor agora se equilibra entre expectativas de produtividade alta e o velho medo de preços baixos.
Final feliz até a próxima safra?
A colheita deve se estender até o fim de julho, graças ao atraso no plantio. E o enredo da soja ainda está em fase de planejamento (ou de drama existencial). Enquanto isso, os produtores seguem ajustando contas, insumos e esperanças — tudo isso sob o sol escaldante e a incerteza de sempre.